lua pantaneira

a lua é cheia de surpresas
ela se abre pantaneira
para o gavião pousar

quando mingua o rio
a areia se prateia de bichos
na beira dos igarapés

o peixe boi está louco
e juntos desaparecem.


claudia almeida





 


 





morrendo entre as pedras
nem nas minhas tardes
mais remotas
abriu-se um terremoto
sob mim
o que detona a síria?
pois tudo foi longe demais
o detonador americano
deserta a esperança
o meu interno é um drama
um partir de flores
crianças sujas no fronte
memória que o amanhecer revela
bombas de ferro,
peitos de homens
sonhamos com pedras
e pálpebras puras e mortas
deixem ali no fundo do saco
a morte do escavo
o avião que observamos
os caminhos sumiram
bloquearam a água
cheguem mais perto dos mutilados
da palavra que explica o destrato.
claudia almeida






o aruanã dourado

somos leves
o aruanã dourado leve no cosmo
visão tupi guarani da maré
que guarda o cardo nas tintas
para o fundo interno da criação
me leve leve ...


claudia almeida
desenho:Luisa Almeida





estaca é o seu nome

não há flor que nasça na terra
nem açude nos lábios
desanda a barriga contraída
e arranca a lua minguada
estaca é o nome da cobra
pesadelo pra curro de saia
que mata quem não se acostuma
couro de chifre no barro
pra morte enfeitar o pescoço
entre olhos o que valha.

claudia almeida


gato inka

inkai o gato inka
camufla o haikai

claudia almeida & sônia brandão

#haikai #foto luisa almeida

mañana do espantalho

o espantalho colhe girassol na subida serra mar
estranho não ver que as coisas estão se mexendo
estive rezando um decassílabo para uma avezinha pousar...
lagoa rasteira que espelha a mañana, as casas, os sonhos
o espantalho caminha no matão espantado com o girassol
translado de suor
seu corpo é um talo nu que los outros querem!

claudia almeida


Aqui do dique
um peixe de flandres
flutua nas cinzas do breu
de sampa
No. Eu quero saber aqui dentro
de mim qual o vento dessa lâmina
ah, esse mar ausente quinto andar
um céu quente de cinema que faz lembrar
No loners with the blue sky
 (ninguém sozinho olhando o cèu).

claudia almeida



o pargo

o fio azul leva o barco
o pargo escapulário
imagem de fé e fome
escoando o instante em braço
de mar de longa força
que oriente o monge
num misto de gente sem fronteira
ponto de fuga não suave terra
que o sábio leve do tempo
o tempo de pescar.

claudia almeida



córrego do feijão

agora tiquinho de passarinho
onde tem palmeiras?
no inhotim
os escravos
na morte do córrego do feijão.

claudia almeida